- Lata do Solana Star encontrada na praia de Ipanema, Rio de Janeiro, em 11 de outubro de 1987
No final de agosto, a Polícia Federal do Rio recebeu um comunicado dos EUA de que o navio Solana Star, que vinha da Austrália, estava no litoral do Rio de Janeiro carregando 22 toneladas de maconha, que seriam depois repassadas para outros dois barcos com destino à Miami. A tripulação descobriu que o barco estava sendo procurado e despejou todo seu arsenal no mar. Por volta de 20 de setembro, diversas latas começaram a ser encontradas no litoral do Rio de Janeiro e São Paulo.
- Capa do livro "Verão da Lata", de Wilson Aquino
Repressão
Aquino conversou com diversos policiais da época, mas conta que apesar de muitos deles na época terem ligações com os antigos órgãos de repressão da ditadura, sua atitude uma vez que as latas se espalharam foi de relativa permissividade. "Os caras com que eu conversei são maduros, a maioria já deve estar aposentada, eles hoje têm outra visão. Eles próprios acharam que isso não causou uma convulsão social. Mas houve alguma repressão, em todo cais tinha uma operação da polícia", conta.
- Policiais analisam latas de maconha encontradas no litoral paulista em 5 de outubro de 1987
A tripulação
Após jogarem as latas no mar, a tripulação do Solana Star pediu autorização para entrar com o navio no Porto do Rio para reparos no motor. O barco ficou atracado e quase todos os integrantes, com exceção do cozinheiro Stephen Skelton, saiu nos dias seguintes do país. Quando a polícia brasileira reconheceu o Solana Star como o barco que estava sendo procurado, apenas Skelton, que foi imediatamente preso, estava no país.
"Ele foi condenado à uma pena de 20 anos, mas ficou só um ano preso. O próprio STF achou que a quantidade apreendida no barco era muito pequena para condenar o cara por tráfico internacional", conta Aquino. Não havia como provar a relação de Skelton com as latas encontradas no litoral, e a quantidade encontrada no barco era ínfima. "O Supremo viu que era exagero e liberou o cara", diz o autor.
- O cozinheiro do Solana Star, Stephen Skelton, em entrevista logo após ser detido
Influência
Em relação à influência do carregamento do Solana Star na cultura brasileira da época, Aquino acredita que ela não foi muito além de ter batizado o nome de algumas bandas de reggae e ser tema de algumas marchinhas de carnaval. O jornalista acredita, no entanto, que a qualidade do produto vendido no Brasil mudou desde então. "A maconha vendida aqui no Rio de Janeiro era solta, de qualidade duvidosa, causava muita irritação e tosse. Depois começou a surgir uma maconha de mais qualidade, o que a gente chama hoje em dia de 'prensada'. Isso a gente pode atribuir ao verão da lata", conta ele.
O autor se diz favorável à descriminalização, mas acha que a legalização da maconha seria uma questão mais complexa no Brasil."Acho que a descriminalização na prática já está ocorrendo. Mas legalizar requer outros estudos: você tem que considerar quem vai poder vender, quem vai poder comprar, aonde, quanto seria cobrado...é uma coisa mais complicada", conclui ele.
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